Sunday, March 18, 2007

Mais uma noite no Redundância

Eu e uns amigos bebemos sempre em um bar, no bar Redundância. O que já é praticamente rotina. Afinal, todo o sábado não há nada que nos impeça de se reunir naquele local. Nem a morte da mãe de algum, nem traição e nem a derrota do time. Lá é pra afogar as magoas mesmo. O Redundância é um lugar muito comum, e todas as reformas que são feitas nele se parecem com as feitas anteriormente. Ele fica ao lado de outro bar, chamado Senso Comum, onde os freqüentadores também se parecem muito entre si. Todos dividem as mesmas visões de mundo. Lá não existem brigas. É um local tranqüilo e silencioso, as pessoas não conversam muito, todos estão sempre certos e em consenso.
O dono do Redundância se chama Pleonasmo. Mas nós, como somos íntimos, o chamamos só de Pleu. Ele também participa de nossas conversas, e muitas vezes senta-se a beber e jogar papo fora, como é de costume. É uma pessoa íntegra. Dizem que ele é exatamente igual há pelo menos 30 anos.

Um dia desses, ele nos apresentou um amigo, o Óbvio. Ele era exatamente como imaginávamos. Nem muito alto, nem muito baixo, nem cabeludo, nem calvo, era ele mesmo, Óbvio. Um rapaz bom, que era adorado e lembrado por todos. Não tinha como tirar ele da cabeça. Aonde se ia ouvia-se falar no Óbvio. Mas também pudera, tudo que ele falava era muito claro, qualquer um conseguia entender. Ele se expressava muito bem. Isso eu notei logo na primeira rodada de whiskey - sempre bebíamos a mesma marca no Redundância - quando ele começou a falar de futebol. Ele deu uma verdadeira aula! Começando pelo fato de que ele sabia de tudo, disse, por exemplo, que em um jogo vence que faz mais gols. Não fiquei muito surpreso, já esperava isso, mas quando ele falava parecia que só ele sabia, que nós éramos leigos no assunto. Afinal, tudo que o Óbvio fala é incontestável, e quem discorda passa por tolo facilmente.

Ele versava sem parar, e de repente parou! Levantou da mesa, deixou o copo suado na beirada, e nós ficamos olhando a cena. Abriu o celular, foi para o canto do bar, longe da música, e pôs o dedo indicador no ouvido esquerdo. Foram longos cinco minutos de espera. Não conversávamos. Agora não tínhamos mais assunto sem o Óbvio. Ficamos dependentes. De repente ele volta, franze a testa, senta-se na mesma cadeira e sacode o gelo do copo com um jogo de pulso. Olha bem fundo no copo, bebe um gole daquele destilado, que naquela altura era mais água do que whiskey. Fica pensativo durante alguns segundos e nos olha. Diz que seu irmão está vindo até o bar para juntar-se a nós. Não entendo a preocupação dele, afinal nem parecia mais o Óbvio. Ele diz que não gosta muito desse seu irmão e por isso o descontentamento.

Voltamos a conversar. E depois de alguns minutos tudo voltava ao normal, quando após uma hora de espera chega seu irmão, o Verídico. Eles não tinham nada a ver um com o outro. Tudo que se via em Óbvio não tinha nada de Verídico. Até o Pleu não entendia o parentesco daqueles dois. Eu e meus amigos ficamos atentos. Logo percebi que Verídico era um cara mais seguro, falava pouco, mas sempre com convicção. Parecia ter certeza do que dizia, apesar de muitas vezes não entendermos do que se tratavam suas palavras. Mesmo com aquele desconforto que a situação gerava, estávamos gradativamente nos soltado, claro, com a ajuda do álcool.

Ali ficamos a noite inteira. Até que Óbvio e Verídico começaram a discutir. Tudo que um falava o outro dizia o inverso. Óbvio argumentava que gostava mais do seu outro irmão, o Consenso. Afinal, tudo que Óbvio pensava era aprovado pelo Consenso. Ao tocar no nome do outro irmão os dois quase quebraram a mesa ao meio, devido as constantes batidas com a palma da mão na tábua.

Logo, para o bem de todos, resolveram partir. Óbvio foi para o lugar de sempre, Verídico saiu por aí, sem destino. Nos sentimos bem, mas ficamos sem o que conversar. Sem o Óbvio não tinha assunto, e como conhecemos pouco seu irmão, também não tínhamos nada de Verídico pra dizer. Resolvemos partir, Pleonasmo fez a mesma coisa que faz todos os sábados, nós também. Na despedida nenhuma palavra, alguns olhares e sinais apenas. Na rua, um vento morno, ao fundo vi o sol nascendo, com um tom de violeta e laranja no horizonte. Acendi um cigarro, vei que o Senso Comum acabava de fechar também. Lá não havia nenhum chato incomodando no fim da noite, todos sabiam a hora que o bar fechava. Naquela noite aprendi tudo que o Óbvio falava, mas não gostei nada do que seu irmão dizia. Verídico era um chato! Nada que ele disse no pouco tempo que esteve entre nós fez sentido. Decidi convidar Óbvio para beber semana que vem, mas só ele, afinal, quem precisa de Verídico quando se tem o Óbvio?

Tuesday, March 13, 2007

Mais uma do analista











Seguindo a serie do Analista de Bagé, vou postar outro texto. Este é muito bom, um dos meus preferidos deste livro. Espero que gostem.


O analista de Bagé recebe seus clientes de bombacha e pé no chão, nunca deixa de oferecer um chimarrão “ pra clarear a urina e as idéia” e o divã do seu consultório é coberto com um pelego. Tudo isso é verdade. Mas algumas coisas que contam sobre o analista de Bagé são inventadas. Como ele mesmo diz, “tão botando mais coisa na minha boca que água em pirão de quartel”. Não é verdade que as suas sessões de análise em grupo virem fandango e que ele as chame de “freudango”, ou “arrasta-trauma”. Ele se declara “mais ortodoxo que cafiaspirina e braguilha com botão”. Só o que fez foi mandar sua recepcionista Lindaura (“uma china que eu tava criando pra cruzá mas passou do ponto”) acompanhar as sessões com o seu acordeon de madrepérola, “tão chique que em vez de baixo tem gaffe”. Mas é claro que se alguém quiser dançar, desde que seja mantido o respeito, pode. Outra idéia do analista de Bagé foi promover jogos de futebol de salão entre os seus grupos de análise. Jogam os sádicos num time e os masoquistas no outro. Assim o jogo pode ser violento que ninguém se importa.

Mas o analista de Bagé não descuida dos seus clientes individuais. Outro dia recebeu um que teve que ser empurrado para dentro do consultório pela Lindaura.

- Mas que índio más chucro – disse o analista, puxando o moço pelo braço

- Ele diz que não quer tirar seu tempo – disse Lindaura

- Mas tu não ta tirando, tchê. Ta comprando.

- Mesmo assim... – Disse o moço, humildemente.

-Não te fresqueia e deita.

- Mas...

- Deita! – ordenou o analista, ajudando-o a se decidir com um empurrão.

- Quem sou eu.

- Mas tu parece cascudo atravessando galinheiro, tchê.

Qual é o causo?

- É uma bobagem

- Desembucha

- É que eu tenho este complexo...

- Sei.

- O senhor vai até achar engraçado.

- Engraçado é gorda botando as calça. Fala logo que eu tou com a salinha cheia de louco.

- É um complexinho

- To ouvindo

- Fico até envergonhado. Tanto complexo grande por aí...

- Fala, animal!

- Um complexo, coitado, é de inferioridade.

- E tu quer ser curado, no más.

- Se não der muito trabalho...

- Olha aqui, ó bagual. O que tu tem é vaidade

- Eu?

- Mais vaidoso que guri em chineiro. Conheço gente inferior aos monte. Inferior como tu.

- E daí?

- daí que nenhuma pensa que é doença!

Monday, March 12, 2007

É preciso sujeira!


















As mães sempre pedem para a gente não se sujar. Cuidado com a roupa nova! Olha o sapatinho, não vai embarrar heim! Pois é, mas no fundo elas sabem que não adianta, criança adora e deve se sujar. Eu mesmo vivia sujo quando criança, não que minha mãe não cuidasse, mas é que não agüentava nem cinco minutos e já tinha que ir brincar na rua. Ah, bons tempos os que ainda se saia pra rua!

Mas hoje, após sair da aula e ver o trote dos bixos na faculdade, vinha pipocando no coletivo e escutando rádio. Nisso falava uma especialista que tem uma coluna sobre crianças. Dizia que era importante que a criança interaja com o meio, e o resultado disso conseqüentemente é a sujeira. Lembrou daquelas mães paranóicas que reclamam que o filhinho esta vindo muito sujinho da escolinha. E ressaltou que a higiene deve ser feita depois de se sujar, porque do contrário não há necessidade. Escutei esse assunto por vários minutos, o que foi muito bom, pelo menos escutava algo além do ronco infernal daquele motor, e também o do senhor que sentava a minha frente, com uma sacola de frutas e o nariz roçando no vidro.

De tudo que ouvi, uma relação ficou marcada na minha cabeça. Sujeira x Interação. Nossa, é exatamente isso! Como nunca parei pra pensar que a sujeira é resultado da interação com o meio. Parece obvio, mas para uma pessoa com o QI igual ao meu, ah, não é não. Desci do ônibus, mas não consegui deixar essa relação ao lado do senhor das frutas. Ela me perseguiu. Era como uma sombra que, apesar de ser meio dia, eu não conseguia pisar sobre ela. Como um desses detetives malandros, ela me perseguiu até em casa. Não fez muito esforço é verdade, afinal é apenas uma quadra. Sentei para almoçar, liguei a Tv bem alto, pois apesar da idade não tenho um ouvido tão bom assim. Olhei para a comida, estava intacta, até a minha garfada e, posteriormente, o meu mastigar. Está aí, a interação. O assunto voltava à pauta, mas realmente eu não queria saber daquilo, até porque os gols do meu time no final de semana estavam passando na televisão, e esse é o momento mágico do meu dia.

Comi como um porco! Bastante mesmo. E como de costume deitei-me cinco minutinhos. Pensei comigo, num daqueles momentos em que a gente realmente se sente um ser divino, “é verdade!”. Como que por uma revelação cósmica eu pude sentir o éter da verdade nas minhas mãos. É verdade, para haver interação há de haver sujeira. Nada pode interagir se não deixar do seu estado natural. Então eu entendi porque nós seres humanos estamos todo o tempo tentando interagir. Seja com o açougueiro, o flanelinha, bom, o flanelinha não, porque na maioria das vezes são uns chatos, mas com os amigos e pessoas sentadas do nosso lado no banco do ônibus. Nós temos a necessidade de trocar sempre o nosso estado natural. Precisamos de emoções, informações e conseqüentemente conhecimento. Neste momento de revelação pura entendi o porque do trote nos bixos, ou calouros, nas universidades. É mais que um ritual de iniciação. É uma interação com os outros. Mas para isso eles voltam aos tempos de criança, e tem que se sujar, brincar, rir e dançar. É como uma celebração do momento onde a infância passa a ficar apenas no coração. A partir de agora o caminho é outro. Mas não menos importante, e não menos mágico.

Outra do Analista de Bagé


Estava eu, distraidamente mexendo em meus livros, quando encontro uma edição de 1982, do livro de Luis Fernando Veríssimo, “Outras do Analista de Bagé”. Eu nem lembrava mais desta obra, que eu já tenho a algum tempo, e que é resultado de horas de garimpo nos sebos da vida. Pois bem, a abro na página sete e leio. Penso: Ah, que saudade destes textos engraçados, inteligentes e leve do Veríssimo!

Pois bem, não me resisti e, para que todos leiam, transcrevi uma das historias para por no blog. Em breve postarei outras igualmente agradáveis. Pesso desculpa pela foto que não está plasticamente bela, mas é bom para visualizar a capa do Livro. Espero que gostem!


Outras do analista de Bagé

O analista de Bagé se declara “freudiano de colá decalco” e “mais ortodoxo que Caximir Buquê”, mas isto não o impede de experimentar com novas formas de terapia. Como no caso da mulher do compadre Salustiano.

Contam que um dia o compadre Salustiano entrou no consultório, segundo o analista de Bagé, como mata-mosquito em convento. Causando alvoroço. Eles há tempo não se viam.

- Guasca velho!

- Cachorrão!

- Índio bem loco!

- Seu bosta!

- Animal!

- Desgraçado!

E atiraram um nos braços do outro, com tanta força que a Lindaura veio ver se não tinha móvel quebrado. Depois o analista de Bagé mandou o amigo se deitar no divã e desmbucahar, que era de desgraça. O Salustiano reagiu.

- Epa. Ta me estranhando, compadre? O problema é com a Rosa Flor.

- O que tem?

- A Rosa Flor quer ir pro Rio.

- Ir embora do Rio Grande? Mas enloqueceu?

- Pos é. Diz que não agüenta mais vê campo. Quer ver o mar.

- Mas ela não sabe que mar é igual a campo, com a desvantagem q afunda?

- Sabe, mas não adianta. Aquela, quando decide ir pra um lugar, é como cachorro de cego. Só matando.

- Escuta aqui, tchê. Tu sabe que mulher que vai pro Rio, já desce na rodoviária mal falada.

- E não sei?

- Me manda ela aqui.

Estava eu, distraidamente mexendo em meus livros, quando encontro uma edição de 1982, do livro de Luis Fernando Veríssimo, “Outras do Analista de Bagé”. Eu nem lembrava mais desta obra, que eu já tenho a algum tempo, e que é resultado de horas de garimpo nos sebos da vida. Pois bem, a abro na página sete e leio. Penso: Ah, que saudade destes textos engraçados, inteligentes e leve do Veríssimo!

Pois bem, não me resisti e, para que todos leiam, transcrevi uma das historias para por no blog. Em breve postarei outras igualmente agradáveis. Espero que gostem!

A Rosa Flor, a princípio, não quis dizer nada. Ia para o Rio e pronto. O analista de Bagé abriu um volume do Freud para a consulta. Era ali que guardava, numa folha de caderno de armazém, escritas a toco, as máximas do velho Adão, seu pai. Encontrou um precedente: “Pra amarrar cavalo no campo e mulher em casa, só carece de um pau firme”. Deitada no pelego a Rosa Flor confirmou com a cabeça quando a analista perguntou, sutilmente, se o compadre não passava mais a lingüiça na farinheira. Era verdade.

O analista botou uma mão na cabeça. Aquilo era a pior coisa que pode acontecer com um gaúcho, fora cair do cavalo ou a filha casa com nordestino. Com a outra mão, começou a desabotoar a braguilha. Fazia qualquer coisa por um amigo.

Ficou combinado que a Rosa Flor teria sessões duas vezes por semana e desistiria daquela historia de ir pro Rio. O compadre Salaustiano podia ficar descansado. A honra da Rosa Flor estava salva.

Friday, March 09, 2007

Muita massa e pouco recheio














Como é bonito um texto criativo! Eu sonho em um dia conseguir fazer um. Não é por egoísmo, mas só pelo prazer de me sentir um verdadeiro gênio literário. Seria interessante. Imagina, eu, um cara inteligente...e melhor...criativo.

Bom, mas já desisti dessa empreitada, não levo jeito pra coisa. Eu escrevo, mas é como cagar no mato. Até passa a vontade, mas não é nada bom. A criatividade eu penso que é algo que sai de dentro da gente sabe. Algo como um....um... bom, não sei, não consigo imaginar o que seria. Mas com certeza seria algo criativo.

O meu maior problema é que ando em círculos, mas não é porque sou manco, o que ocorre é que meus textos não têm conteúdo. Assemelham-se muito com aqueles pastéis de carne fritos que se compra no centro. É bem grande, mas de carne só tem o cheiro. Às vezes tem umas cebolas também. Claro esse é o lado bom, pelo menos quando a gente ta com fome já é algo. Mas quem tem fome de texto? Pelo visto ninguém, e também convenhamos, com tanta coisa boa pra comer por aí escolher devorar textos e mais textos só pode ser coisa de ignorante! E isso, ah, isso eu não sou. Bom, talvez um pouco, mas o fato de eu assumir faça com que eu seja um pouco menos burro. Sem ofensas ao animal, que também não serve pra nada. Mas deixa pra lá.

Eu sou um cara mal humorado, talvez isso também influa na ausência de conteúdo. Se bem que os caras brabos como eu tem uma vantagem. Sempre são bons polemistas. Mas disso e pastor de igreja gritando o universo esta cheio. Digo universo, pois a igreja é universal né? Certo que têm filiais espalhadas pelo cosmos. Nossa! Nunca parei pra pensar nisso. Seriam os pastores alienígenas? Bom, nesse caso é melhor não se meter com essa gente. Vai saber, a última vez que vi um disco voador – Por que eles existem sim – eu me lembro de não lembrar de nada. Talvez tenha sido abduzido! Nossa essa gente, ou melhor, coisa é perigosa mesmo. Ta aí, já sei.... minha criatividade foi seqüestrada! Mas calma, pra mim claro, já sei como recuperar. Vou ligar pra um desses pastores da Tv. Ou melhor, da rádio, esses gritam mais. Se pa eles sabem de algo. Se bem que, pensando melhor, pra que eu preciso da criatividade? Ela só vai me trazer problemas. Não vou conseguir parar de pensar, criar e nossa...Isso não é pra mim. Acho que vou ficar por aqui, isso está mais que patético não?! Melhor partir agora antes que eu comece a pensar.

Thursday, March 08, 2007

Os Prazeres da Inércia











Há textos que podem mudar a vida de uma pessoa. É serio! A pouco estava viajando entre outros blogs e descobri, agora sim, uma verdade inconveniente! Sou preguiçoso. Bom disso eu já sabia, mas agora foi diferente...eu tive aquela certeza.

Sabe quando a gente chega no banheiro, abre o jornal, da uma forçada, e quando aquela água fria toca nos glúteos se tem certeza que há algo errado, então olha pro lado e vê, ou melhor, não vê o rolo de papel.
Foi mais ou menos assim, tive a certeza da cagada que estava por vir.

O texto falava de como o escritor briga com a tela branca. E fica ali, sentado aguardando a inspiração. Claro, disso eu sabia, já havia entrevistado alguns jornalistas e escritores, e a resposta unânime era sempre de que a inspiração é resultado do trabalho. Essa resposta era tão dita, que por fim me dei conta de que era burrice perguntar da onde vinha a inspiração.

Resolvi fazer isso, trabalhar e deixar os dedos fluírem. Dessa forma até que fica interessante, pois sou melhor na fala do que na escrita. Até de escrever eu tenho preguiça!

Nas manhãs de inverno então, nossa, ponho o nariz pra fora e vejo quanto a vida é cruel. O bom mesmo era dormir e comer. Claro, não viveríamos muito, mas também, nesse caso ate que morrer era uma boa idéia, apagava, não teria chefe, professor, pai ou mãe que nos fizesse mover. Mas aí é que está o problema. Viver é cansativo, e não nos deixam em paz. Até na hora de morrer vem um tiozinho de branco, com um estetoscópio pendurado no pescoço. E daí quanto tu acha que enfim vai descansar, lá vem ele com choque, bisturi, injeção, tapa na cara, respiração boca a boca, qualquer coisa pra te fazer acordar.

Daí tu acorda! E tem que ficar semanas lá, naquela cama. Até que não seria má idéia, se não fosse o fato de tudo doer, e nem assim tu consegue dormir. A parte boa é a da morfina. Ô delícia. Dá aquele barato, tu da uma relaxada, e depois volta a doer tudo de novo. Mas que porcaria! Mas tem parte melhor, os familiares apóiam, dizem que tu tem que descansar. Mas também passa uma semana e a reclamação é outra, agora o negócio é trabalhar.

Como o ser humano é burro. Trabalha, trabalha e trabalha pra um dia poder descansar. Mas nunca chega esse dia. Por isso eu já vou descansando desde agora. Pra ter certeza de que chegará. Falando em trabalho, já sei de uma coisa, precisava de alguém que trabalhasse por mim, sei lá, tem tanto dinheiro no mundo, qualquer coisa que pague uma cama e uns pãezinhos ta valendo. Eu adoro pães.

O lance é a lei do mínimo esforço. E também pra que se esforçar, mais cedo ou mais tarde alguém inventa alguma coisa pra gente fazer. E sempre isso nos leva a fadiga. Bom, vou dar um gole mais nesse suco de maracujá e ir pra cama. Desculpem a falta de conteúdo do texto, mas vamos ser sinceros, escrever ocupa muito a cabeça, e não to nem um pouco afim de usar a minha. Também convenhamos, tu deve ter o que fazer pra ler isso né. Haja saco!

Santo templo


















Não sou um homem criativo. Talvez por isso me atenha nos detalhes das coisas. Sim, está é a minha forma de me sentir criativo. Simplesmente observo o que muitos não dão bola. E assim encho o peito de orgulho nos meus momentos solitários, onde ninguém pode provar ao contrário de minha tese. O estranho é que para me sentir melhor, mais socializado, esses detalhes me voltam à cabeça de tempos em tempos. Acabam por serem promovidos a insigths e então tenho a sensação da criatividade. E foi assim, lendo uma pequena síntese sobre a criação dos preservativos, que minha memória acessou o banco de detalhes mal guardado em minha massa cinzenta.

Descobri que a cultura dos preservativos é anterior a Cristo. Na tentativa de evitar uma gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis a humanidade inventou fórmulas estranhas. Gengibre e suco do fumo, excrementos de crocodilo e outras formulas de alcalino, assim como os espermicidas modernos. No século XIX eram confeccionados preservativos de uma borracha grossa, porém apartir de 1880 foram feitos em latex e evoluem gradativamente. Este inside fez com que eu me recorda-se de um teatro que a natureza humana me proporcionou numa madrugada dessas.

Eu, conterrâneo estrangeiro dos porto-alegrenses, dirijo-me periodicamente ao interior do estado para a manutenção das minhas amizades. No retorno a capital, passo pelas imediações da rodoviária de porto alegre. Minhas retinas, dilatadas pela ausência de luz no ambiente, registraram uma cena nova no meu arquivo de imagens mental. Um bordel. Obviamente era um bordel diferente dos que conheço. Não que eu tenha cometido o ato anti-cristão de conhecer muitos e de freqüenta-los assiduamente.

Infelizmente o meu sentido aguçado da visão não consegue registrar o nome do estabelecimento do prazer. Se é que ele necessitava de um. O que me chama a atenção é uma moça. Encostada na porta ela pita constantemente um cigarro. Enquanto realiza seu ritual tabagístico lança olhares maliciosos sobre os transeuntes. São exatas 5:27 da madrugada. Mas o movimento interno parece estar em horário de rush. Fito tudo do outro lado da rua, nas mediações de um estacionamento. Olho novamente os seres humanos que ambientam o início da aurora. Observo o lugar sujo e movimentado. É como um cinema de fundo de quintal ou uma espécie de teatro de sombras. Tudo se reflete em um lençol vermelho pendurado por um barbante servindo de cortina para os prazeres alheios. De dentro daquela caverna úmida saem homens, bigodes, barrigas, sorrisos de alívio e satisfação. É nesse momento que vejo o quanto os preservativos representam a busca do homem por um prazer sem culpa. Mas é claro, longe de mim pensamentos tão impuros. O homem almeja sim o prazer divino.

Voltando!

Desculpem a demora para postar algo aqui...
mas realmente nao vinha escrevendo nada que se combinasse com este espaço.
mas agora vou atualizar regualarmente.

obrigado!
ate mais!